A relação entre a
escassez e oportunidade gera resultados tão diferentes para os meios e os seres
que convivem em cada espaço que entender como se prospera nestes espaços é
fascinante para mim.
Focando no
desenvolvimento humano, social e econômico, a escassez aniquila iniciativas de
alguns, enquanto parece estimular outros a realizações incríveis. Ao visitar
mais uma vez a capital e região do entorno da província de Mendoza, como Luján
de Cuyo, Maipú, Godoy Cruz, Las Heras, Agrelo, Tupungato, Tunuyán, todas ao pé da
Cordilheira dos Andes reforço o entendimento de que a escassez estimula o que
aos olhos de alguns, poderia parecer impossível. A região seria desértica, não
fosse a iniciativa de quem vive lá, mesmo antes da colonização. Os ventos empurram as nuvens carregadas vindas do pacífico para tão alto em função das
montanhas de mais de 4mil metros acima do nível do mar, que ao cair a chuva congela
caindo em forma de neve sobre as montanhas, ultrapassando-as raramente. Considerando
a distância do Atlântico, deste lado também são raras as possibilidades de
chuvas, que ficam na média de 100mm por ano. Com toda a escassez de água, a
região produz 80% do vinho de toda a Argentina, que ocupa o 5º lugar no ranking
mundial de produtores, crescendo 8% ao ano.
A produção de
azeitonas para conservas, azeite de oliva e derivados, bem como pêssegos,
marmelo, figo, damasco, pera, maça, melão, ameixas, nozes, amêndoas, in natura ou secas de excelente qualidade, representam outra marca importante da região. Esta
produção vem de solos muito pobres em matéria orgânica, mas rico em minerais. O
clima muito seco evita insetos, fungos e necessidade de defensivos,
oportunizando produção sustentável, orgânica, tendo vários casos de produção biodinâmica.
Utilizando a
geografia a seu favor, os incas, que habitavam a região já tinham a prática de
represar a água que desce das montanhas, criando lagoas que dão vazão a canais
que alcançam mais de 200 km. A água desce das montanhas com força para alcançar a
todos os locais sem qualquer necessidade de bombeamento, atendendo aos imensos
pomares e vinhedos com irrigação por gotejamento. Parte da água que desce
montanhas abaixo após as represas empurram turbinas que geram energia elétrica para
a região de mais de 1 milhão de habitantes.
Numa região
desértica, com histórico de terremotos, a cidade de Mendoza é uma das mais
arborizadas do planeta. Muitas praças e especialmente as ruas, contam com
árvores centenárias, todas irrigadas diariamente pelas acéquias, canais que passam
em todas as estradas e ruas das cidades próximo ao meio fio. Fato admirável é
que não se encontra lixo nas acéquias, apenas folhas que caem dos grandes
plátanos e álamos durante o outono.
Outro fenômeno
interessante que ocorre na região é redução populacional da capital, em
contrapartida ao crescimento das pequenas cidades ao redor. Com o acesso a
água, energia, estradas asfaltadas e em excelentes condições, os produtores vão
abrindo novos campos de trabalho no terreno árido, gerando riquezas para quem
mora no entorno. A cada ano surgem novos empreendimentos enogastronômicos,
empregando mais pessoas que além de renda, encontram um lugar tranquilo para
manter as famílias, com vistas incríveis das montanhas cobertas de neve e
campos repletos de vinhas.
Como outros locais no planeta, a região
desértica próxima a cordilheira é um excelente exemplo de como a escassez pode
gerar excelentes oportunidades, com a iniciativa de quem vive em cada local. Ao
conhecer estes locais, precisamos rever o comportamento reativo sobre nossas
cidades ao reclamar do clima, do solo, das chuvas, e de tantas outro fatores
externos, esquecendo de avaliar o quando é possível fazer por aqui mesmo.
Um abraço e até a
próxima!
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