Os produtos da tecnologia da
informação estão cada vez mais presentes no cotidiano de cada vez mais pessoas,
independente da idade. Sempre me impressiono ao saber do número de pessoas
viciadas nisso ou naquilo, assim como na variedade de atividades com potencial
para viciar muita gente.
Entender
o vício na tecnologia da informação tem estimulado pesquisadores pelo mundo e
uma delas é a jornalista espanhola Marta Peirano, que pesquisa o tema desde os
anos 90 e recentemente publicou o livro “O inimigo conhece o sistema”. A autora
descreve o cotidiano digital como um sequestro rotineiro de nossos cérebros,
energia, horas de sono e até a possibilidade de amar.
A
jornalista chama de “economia da atenção” o esforço das empresas de aplicativos
por manter as pessoas conectadas por mais tempo, que se estimulam pela busca
por um usuário novo, uma notícia nova, um novo recurso, alguém que fez algo
diferente, que enviou uma foto, um vídeo, rotularam algo, ou alguém. Ficamos
muito inquietos ao saber que tem 5 mensagens não lidas, 20 curtidas, 3
comentários, 8 compartilhamentos e ainda não fomos conferir. “As pessoas que você segue seguem esta conta, estão falando sobre este
tópico, lendo este livro, assistindo a este vídeo, usando este boné, comendo
esta tigela de iogurte com mirtilos, bebendo este drinque, cantando esta
música..." estão determinando nossas escolhas, reduzindo nossas opções ao
que os algoritmos identificaram que é a tendência para o segmento que nos
enquadramos.
"O
preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você oferece em troca",
escreve a jornalista que mais adiante fala no condicionamento de intervalo
variável, no qual você não sabe o que vai acontecer. “A cada ação nas redes
sociais, postando, curtindo ou compartilhando você não sabe se receberá uma
recompensa, uma punição ou nada, você fica viciado mais rapidamente. A lógica
deste mecanismo faz com que você continue tentando, para entender o padrão. E
quanto menos padrão houver, mais seu cérebro ficará preso e continuará, gera
um vício especial, porque trata-se do que a sua comunidade diz, se o aceita, se
o valoriza.” Lembrando que isso ocorre pelo esforço que cada um de nós faz para
ser aceito e entrar nos grupos.
Ao
circular por um ambiente com presença de crianças parece que uma criança sem tela
fica entediada, quando na verdade, uma criança fica entediada e
consequentemente irritada por falta de interação. “O vício é o mesmo, mas cada
um o administra de maneira diferente, em geral dizendo que não é um vício, pois
estamos nos atualizando e ficando mais produtivos. “Você
não é viciado em notícias, é viciado em Twitter, ou viciado em seus amigos ou
nos seus filhos cujas fotos são postadas, você é viciado em Instagram. O vício
é gerado pelo aplicativo e, quando você o entende, começa a vê-lo de maneira
diferente.” escreve Peirano.
As
leis de proteção de dados mostram que estamos obcecados com nossos dados
pessoais, fotos, mensagens, porém, o que interessa aos desenvolvedores e aos
clientes deles é o valor estatístico que o seu (e o meu) comportamento gera,
mostrando as empresas e governos o que tendemos a aceitar, gostar, rejeitar,
compartilhar, e a partir daí vão direcionando informações, anúncios, notícias,
dicas, para todos os seus perfis. Os dados estatísticos das suas atividades são
vendidos primeiro para os anunciantes, depois para criar as previsões,
lembrando que muito se fala na internet de “mercado de futuros.”
O
problema mesmo não é o celular, não é a internet, pois todas estas tecnologias
das quais dependemos são ferramentas para facilitar a vida contemporânea. O que
Marta Peirano e outros estudiosos têm defendido é que elas não precisam da
vigilância para funcionar, nem precisam monitorar nossa vida para prestar um
serviço.
Finalizando,
precisamos utilizar a internet, o celular, o computador para facilitar a vida,
melhorar a produtividade, mas redobrar a atenção para o fato de que estamos
ficando menos felizes e menos produtivos por estarmos viciados na tecnologia da
informação.
Um abraço e até a próxima!
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