terça-feira, 31 de outubro de 2017

Reformando


     A notoriedade que a data dos 500 anos da Reforma Protestante/ Reforma Luterana ganhou em boa parte do planeta, especialmente no ocidente é justa e merecida não somente pelos fatos históricos, mas pelos princípios que continuam vivos e válidos após 5 séculos.
     No período medieval, quando poderosos utilizavam-se da religião e de povos analfabetos para fazer valer as suas vontades, aumentar o poder, realizar conquistas, enriquecer, escravizar, enganar... alguns corajosos se atreveram a questionar, protestar e propor reformas com impacto na igreja, na educação, na política, no poder e no dia a dia pelas atitudes das pessoas. Era um período em que governantes acumulavam poderes de Estado e da Igreja, onde era possível comprar tudo, de perdão pelos pecados, passando por lugar garantido no céu, a títulos de bispado e papado, oportunizado também por um ambiente onde uma minoria tinha acesso aos estudos, com a maioria das instituições mantidas pelas congregações religiosas e geralmente com formação teológica.
     Foi da universidade que partiram os movimentos que protestavam com melhores condições de serem ouvidos. Com destaques para João Wycliffe, da Universidade de Oxford, seu seguidor João Huss, da Universidade de Praga, Savonarola em Florença, e principalmente Martinho Lutero, com seus estudos de Mestrado em 1505 e Doutorado em 1512 pela Universidade de Erfurt, tido como a voz profética da Reforma e João Calvino, da Universidade de Genebra, tido como o organizador do movimento, os principais personagens da Reforma defendiam a educação maciça do povo para haver liberdade cristã. Os reformadores pregavam que para entender a palavra de Deus, as pessoas precisam ser alfabetizadas e ter acesso as escrituras no idioma que podem entender. Na época as escrituras eram disponíveis em hebraico, grego e latim. Lutero que traduziu a Bíblia para o alemão, pregava que ao lado de cada igreja deveria haver uma escola e assim vimos surgir em comunidades ao redor do mundo, assim como as dos imigrantes no Brasil, escolas luteranas construídas antes mesmo das igrejas, em alguns casos. 
     A reforma protestante teve tanto impacto na educação, quanto na religião e sua dicotomia em relação ao estado. Os desdobramentos da reforma protestante tiveram e seguem tendo influencia nos mais variados campos da sociedade, pregando nas igrejas e ensinando nas escolas, desenvolvendo princípios que impactam nas organizações, nos negócios, no voluntariado e na organização das sociedades. Ao propor a mudança de atitudes onde o indivíduo ao invés de olhar para o céu pedindo perdão e soluções para os seus problemas, deve buscar olhar para a terra, para onde Deus está olhando, olhar ao seu redor, como vive e como age com os outros, gera-se o estímulo a ações menos individualistas, mais cooperativas, com mais colaboração, mais confiança e solidariedade. A reforma também estimulou uma vida com maior consciência da liberdade cristã, responsável por seus atos aqui na terra, proporcionando cidadãos emancipados entendendo que Deus lhes permite muitas coisas cientes de que colhem o que plantam ao longo da existência.
     Estudiosos com algumas obras já citadas neste espaço como “A sociedade da confiança” mostram que organizações e comunidades com maior influência dos princípios da reforma protestante tem maiores níveis de confiança, cooperação e colaboração, com ambientes onde observa-se mais prosperidade e consequentemente qualidade de vida.
     A necessidade de reforma, de revisão do que fazemos, de como agimos é constante e vivemos tempos em que mais pessoas precisam se inspirar nos princípios da Reforma para rever conceitos e práticas do Estado, da Escola, da vida em comunidade e do dia a dia.
     Que possamos todos ser um pouco reformadores do que está ao nosso alcance! Um abraço e até a próxima!

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