domingo, 27 de setembro de 2020

Ensino por último (de novo)

 


       Preparação para o retorno, plano da volta, retomada, recomeço, volta ao normal, novo normal, e outras expressões nesta linha estão presentes nas discussões, falas e textos dos últimos meses e sobre as mais diversas atividades como futebol, esportes, clubes, turismo, fronteiras, voos internacionais, casas noturnas, teatros, cinemas, shoppings, bares, restaurantes... e também sobre as escolas, novamente, por último.

É no mínimo curioso acompanhar as defesas da volta do futebol e agora da volta do público aos estádios, abertura de bares, cinemas, teatros, casas noturnas... na sequência de comentários e opiniões temerárias a abertura das escolas. As discussões estão na imprensa, com comentaristas, entrevistas com autoridades, mas não são somente estes que priorizaram o retorno das atividades de lazer e entretenimento, deixando o ensino por último. São 7 meses de escolas fechadas e para o retorno as informações são de falta de tempo e condições para completar os planos de contingência, adaptações aos protocolos, aquisições de utensílios e equipamentos, preparação de professores, técnicos, estudantes e famílias. Em outras palavras, a mobilização social pela abertura das escolas tem sido bem aquém dos movimentos pela volta do futebol, casas noturnas e outras.

A bola rolava na TV e as unidades fabris, o comércio e a prestação de serviços, lutavam para se manter abertos, e até hoje seguem temendo cada troca de bandeira. Não parece ser o mesmo sentimento de quem atua nos negócios relacionados com 1ª divisão do futebol brasileiro, por exemplo, há tempos em atividades, com anuência e apoio da imprensa, sociedade e autoridades. Os cinemas e teatros, em tempos diferentes em cada região, retomaram o funcionamento devido ao trabalho dos grupos de apoio a cultura. Há algumas semanas as autoridades discutem com os representantes de casas noturnas os protocolos para o retorno das atividades normais, tendo iniciado pelos que oferecem apresentações de bandas incluindo um lanche. Cultos e missas tiveram retorno da presencialidade nas últimas semanas, assim como os esportes ao ar livre de praticamente todas as modalidades. O funcionamento das escolas é que vai ficando por último...

Na condição de apreciador de vinhos tintos finos (com bastante resveratrol), cervejas artesanais, chocolate ao leite e cafés especiais, tenho preferido ler as pesquisas científicas que mostram o quanto o consumo na dose certa destes produtos contribuem com a saúde. Lembro assim que pesquisas científicas, depoimentos de profissionais, argumentos para defesas dos setores, escolhas de prioridades tem numa certa variedade e não por acaso, cada um de nós escolhe aqueles números e evidências que corroboram com sua defesa e enaltecem seus argumentos. Isto posto, enfatizo que meu propósito não é discutir qual o momento de retornar cada atividade, mas compartilhar com os amigos leitores a constatação de que novamente o ensino ficou por último. E novamente pela vontade do conjunto da sociedade, não somente por responsabilidade das autoridades constituídas que respondem pelo setor. A repercussão na mídia, nos decretos e nos anúncios são boas evidências da prioridade pelo entretenimento, deixando o ensino em planos inferiores novamente.

Quando começou a ter condições de segurança para volta de atividades, esta deveria ser gradual. Quais atividades deveriam ser priorizadas em atenção, investimentos, mobilização?

Eu gostaria de viver numa sociedade que pudesse priorizar o ensino com mais frequência. Não é racional esperar que uma sociedade que prioriza o entretenimento acima do ensino e das atividades produtivas, tanto em atenção e planejamento, quanto em investimentos e preparação, possa superar o subdesenvolvimento e a consequente dependência dos países desenvolvidos.

Um abraço e até a próxima!

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Como manter a calma na pressão

 


Os últimos anos e em especial os últimos meses têm sido testes de altíssimo nível para quem vive sob a pressão dos resultados, da tomada de decisões difíceis, da elaboração de planos rápidos, dentre outros. Sabe-se que um dos segredos para enfrentar a pressão é manter a calma, porém, é possível que a maioria esteja fazendo isso de maneira errada.

Um estudo coordenado pelo professor Allison Wood Brook da Harvard University mostra que sob pressão a maioria de nós tenta ficar calmo da maneira errada. Outra constatação é que quem abraça o desafio de superar uma crise, ultrapassar as dificuldades as anima e assim tendem a obter melhores resultados do que aquelas que se esforçam muito para permanecerem calmas. “Quando as pessoas se sentem ansiosas e tentam se acalmar, elas estão pensando no que poderia dar errado. Quando elas ficam animadas, elas estão pensando nas coisas que podem dar certo", afirma Brook. A justificativa é que permanecer composto, focado e efetivo sob pressão, é uma atitude mental, pois aqueles que dominam uma crise são capazes de canalizar suas emoções para o comportamento que desejam, transformando ansiedade em energia.

Uma recomendação é se apegar a lógica, avaliando o que pode ocorrer de pior com este resultado, como isso vai impactar em 5 anos, e assim por diante. O pânico no caso de um erro ou acidente é a antecipação de passar vergonha em público. Assim, os estudos recomendam construir confiança e concentração de esforço em busca das soluções. O coordenador do estudo recomenda lembrar sempre: "Tem mais para mim do que essa situação. Um erro não vai me definir". E ainda, de que é preciso reconhecer “que as pessoas são menos focadas em você do que imagina.” Ou seja, seus colegas, as pessoas próximas tendem a se preocupar mais com a solução dos problemas do que com quem tem responsabilidade com o erro ou acidente.

Nada ajuda mais a manter o foco durante uma crise do que o pensamento lógico. É preciso se recuperar logo do susto e focar no que realmente aconteceu, possíveis repercussões, como evitar mais repercussões, quem pode ser envolvido para reduzir impactos negativos, dentre outros. Não há nada de produtivo em autoacusações e nem culpas aos outros. Entendidos os fatos e o problema, é hora de “tomar as rédeas” da situação. Concentrar energia para superar e tentar fazer as coisas melhores dará mais forças e auxilia na redução da ansiedade. Animar-se pelos desafios de “voltar das cinzas” irá melhorar sua performance drasticamente. Para manter as coisas funcionando, é importante não ser muito duro consigo mesmo, lembrando que ninguém é perfeito e que até as pessoas mais bem sucedidas cometem grandes erros.

Gerenciar suas emoções, manter a calma e ter um modelo mental preparado para trabalhar sob pressão está diretamente ligada ao desempenho de cada profissional. Muitos testes de seleção, especialmente para cargos e funções que precisam lidar com pressão, avaliam a capacidade da pessoa para lidar com suas emoções. É um aprendizado contínuo, que todos podem desenvolver.

Ninguém gosta de cometer erros e não importa o tamanho e o tipo de erro, o certo é que paralizar diante do medo, da incerteza, da vergonha não só não vai gerar soluções, como tende a piorar as coisas. Quando se deixa os pensamentos ruins aflorar, a capacidade de tomar boas decisões e de seguir em frente de forma efetiva reduz significativamente. É preciso controlar as emoções, manter a calma para pensar e desenvolver planos para fazer as coisas da maneira correta e seguir em frente.

          Erros e pressão são inevitáveis, especialmente para aqueles que se propõe a fazer algo e é justamente destes que o mundo mais precisa. Para que nossas famílias, organizações e comunidades possam se beneficiar dos fazedores, é fundamental que eles mesmos e todo o entorno saibam manter a calma e encontrar juntos as melhores soluções.

         Um abraço e até a próxima!

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Princípios da Amazon

 


As vendas on line têm crescido muito nas últimas décadas, tendo acelerado ainda mais no mundo todo, com a pandemia. Independente do tamanho, ramo e local da sede, nossas empresas têm muito mais motivos para também estarem presentes nos market places locais ou nacionais. A Amazon é responsável por mais de 50% das vendas on line nos EUA, por mais inacreditável que uma empresa pudesse conseguir este feito e vem ganhando mercado em muitos países, incluindo o Brasil. Jeff Bezos, o fundador e atual CEO da Amazon tem a maior fortuna do planeta, conforme os rankings atuais da FORBES e outras.

Chamo a atenção dos amigos para a Amazon, acreditando que precisamos entender como seu fundador superou dificuldades e criou uma empresa que é invejada pelo mundo do varejo. A “chave” do sucesso da Amazon é atribuída à cultura organizacional, especialmente quando se pretende comparar o sucesso desta, com outras empresas. Os prêmios recebidos mostram que eles procuram deixar muito claro que as pessoas e a cultura da Amazon são prioridade, assim como quais são as regras do jogo e como as coisas são feitas na empresa. Em vários espaços e momentos é possível verificar que mesmo que a pessoa seja muito talentosa, só fica se estiver alinhada com a cultura organizacional. A demissão voluntária é incentivada com bônus financeiros aos que não estão apaixonados pelo que estão fazendo.

Procurei sintetizar os princípios declarados desta cultura da Amazon nas linhas a seguir, entendendo que cada leitor pode adaptá-los ao seu negócio:

Trabalham para ganhar e manter a confiança dos clientes, muito mais do que trabalham para acompanhar a concorrência;

– Não sacrificam o resultado a longo prazo em troca do resultado a curto prazo. Não dizem “isso não é o meu trabalho” e agem em nome de toda a empresa;

- Inovam e inventam procurando sempre simplificar. Procuram novas ideias em todos os lugares e não somente dentro da empresa, mas não tentam “reinventar a roda”;

– Contratam e desenvolvem os melhores, buscando reconhecer os talentos excepcionais;

- Buscam incansavelmente os mais altos padrões para produtos, serviços e processos, não escondendo os defeitos “debaixo dos tapetes”, sendo que os problemas resolvidos devem servir de aprendizado e novas práticas;

– Pensam grande, criam e comunicam uma direção que inspira resultados. Os líderes inspiram a equipe e cuidam de todos os detalhes para sempre servir bem os clientes;

- Aceleram as questões relacionadas ao negócio valorizando as decisões com risco aceitável;

- Não gastam dinheiro com aquilo que não importa direta ou indiretamente aos clientes;

– São sinceramente mente aberta, realmente ouvem e estão dispostos a examinar suas convicções, mesmo as mais fortes, com humildade;

- Desafiam respeitosamente as decisões quando discordam, mesmo quando isso é desconfortável ou cansativo. Não gastam energia só para manter o conforto diante de uma ideia que não acreditam, mas uma vez que uma decisão é tomada e determinada, se comprometem totalmente com a sua efetividade;

– Entregam resultados focando nos principais insumos para o negócio e na entrega com a qualidade adequada e em tempo hábil.

Aprender com quem já passou por algumas experiências e está disposto a compartilhar o aprendizado é uma forma de ganhar tempo e evitar desperdícios. Espero que os princípios da liderança da Amazon de alguma forma possam contribuir com os amigos leitores para fazerem melhor o que se propõe.

                Um abraço e até a próxima!

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Quem é o concorrente?

 


Em muitos segmentos, até pouco tempo a concorrência não incomodava muito, pois onde há equilíbrio na relação de oferta e demanda a sensação é de que há mercado para todos. Há porém, aqueles que há tempos perdem o sono pensando no que faz a concorrência. O mais desejável no entanto, é quando a concorrência gera um sentimento que não permite acomodação.

Com a quebra de muitos paradigmas nos negócios, vive-se um momento em que é bem mais difícil identificar claramente os concorrentes e quase impossível identificar de onde sairão os novos competidores. Até algum tempo, falava-se da concorrência como algo relativamente previsível, bastando monitorar alguns players que faziam algo parecido e então planejar e produzir vantagem sobre eles em algum atributo. Desde que eu pesquiso e escrevo, venho defendendo que a análise de concorrência não pode ser feita com base no sentimento/feeling de quem decide, pois deve ser baseada nos cálculos de quem disputa as fatias da renda do cliente alvo.

Apesar dos muitos sinais, notícias, palestras, pesquisas, cursos, textos, vídeos... muitas empresas vêm perdendo mercado, mesmo que aos poucos, percebendo algumas perdas e atribuindo-as a fatores externos como macroeconomia, política, clientes, fornecedores, sem analisar com precisão para quem estão perdendo a participação no mercado. Esta situação é mais frequente em negócios cujos gestores não se atualizam, ou não permitem que aqueles parceiros de mente mais aberta contribuam com o negócio. Este problema não se restringe a empresas pequenas, médias ou familiares, pois grandes empresas, marcas renomadas também perdem mercado ao ponto de desaparecerem, quando não conseguem identificar e acompanhar quem são todos os seus concorrentes.

Um exemplo bem conhecido é a Nokia, que vendeu a maior parte desde os primeiros modelos populares nos anos 1990, até 2007, quando havia se tornado um conglomerado gigantesco, com 65% do mercado e praticamente só considerava concorrente a Blackberry. A partir daquele ano as fabricantes de computadores Apple e Samsung, que depois foram seguidas por outras, passaram a tirar uma fatia cada vez maior deste mercado que cresceu imensamente até os dias atuais. A Nokia não as considerava concorrentes, não percebeu que iriam tomar o seu gigantesco mercado, o que ocorreu muito rapidamente. Poderíamos citar um caso mais antigo e tão conhecido quanto, que é o da Kodak, que viu evaporar o seu consolidado mercado de filmes e máquinas fotográficas, mesmo tendo a primeira patente registrada de máquina fotográfica digital, quando os fabricantes de eletrônicos lançaram suas máquinas digitais e principalmente quando surgiram os smartphones. O que a Nokia, a Kodak e muitas que perderam seus mercados têm em comum com aquelas que estão perdendo o mercado atualmente é o fato de não terem se preparado para as outras possibilidades de concorrência. Eles estão perdendo mercado para players de outros setores, ou de quem era pequeno demais para ser considerado, e não para os concorrentes que estão acostumados a acompanhar e talvez culpam pelas dificuldades do setor.

           Os canais de TV aberta e por assinatura rivalizavam entre si, mas têm hoje nos canais particulares do Youtube e streamings de filmes e séries, quem lhes toma a maior parte de seus mercados. Como já se considera normal o fato dos aplicativos de mobilidade ser os principais concorrentes dos táxis e ônibus urbanos, os aplicativos de hospedagem tomar parte do mercado de hotéis e imobiliárias, outros muitos setores de atividade estão vendo boa parte de seu mercado ser tomado, por concorrentes não tradicionais e não que vinham acompanhando.

            Quem é mesmo seu concorrente? É uma pergunta cada vez mais importante para os planos de se manter no mercado. Primeiro é preciso mudar significativamente o modelo mental das lideranças dos negócios, pois o conhecimento precisa ser renovado constantemente e os olhares ampliados e diversificados.

                Um abraço e até a próxima!

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