sábado, 12 de maio de 2018

Escassez X oportunidade


A relação entre a escassez e oportunidade gera resultados tão diferentes para os meios e os seres que convivem em cada espaço que entender como se prospera nestes espaços é fascinante para mim.
Focando no desenvolvimento humano, social e econômico, a escassez aniquila iniciativas de alguns, enquanto parece estimular outros a realizações incríveis. Ao visitar mais uma vez a capital e região do entorno da província de Mendoza, como Luján de Cuyo, Maipú, Godoy Cruz, Las Heras, Agrelo, Tupungato, Tunuyán, todas ao pé da Cordilheira dos Andes reforço o entendimento de que a escassez estimula o que aos olhos de alguns, poderia parecer impossível. A região seria desértica, não fosse a iniciativa de quem vive lá, mesmo antes da colonização. Os ventos empurram as nuvens carregadas vindas do pacífico para tão alto em função das montanhas de mais de 4mil metros acima do nível do mar, que ao cair a chuva congela caindo em forma de neve sobre as montanhas, ultrapassando-as raramente. Considerando a distância do Atlântico, deste lado também são raras as possibilidades de chuvas, que ficam na média de 100mm por ano. Com toda a escassez de água, a região produz 80% do vinho de toda a Argentina, que ocupa o 5º lugar no ranking mundial de produtores, crescendo 8% ao ano.
A produção de azeitonas para conservas, azeite de oliva e derivados, bem como pêssegos, marmelo, figo, damasco, pera, maça, melão, ameixas, nozes, amêndoas, in natura ou secas de excelente qualidade, representam outra marca importante da região. Esta produção vem de solos muito pobres em matéria orgânica, mas rico em minerais. O clima muito seco evita insetos, fungos e necessidade de defensivos, oportunizando produção sustentável, orgânica, tendo vários casos de produção biodinâmica.
Utilizando a geografia a seu favor, os incas, que habitavam a região já tinham a prática de represar a água que desce das montanhas, criando lagoas que dão vazão a canais que alcançam mais de 200 km. A água desce das montanhas com força para alcançar a todos os locais sem qualquer necessidade de bombeamento, atendendo aos imensos pomares e vinhedos com irrigação por gotejamento. Parte da água que desce montanhas abaixo após as represas empurram turbinas que geram energia elétrica para a região de mais de 1 milhão de habitantes.
Numa região desértica, com histórico de terremotos, a cidade de Mendoza é uma das mais arborizadas do planeta. Muitas praças e especialmente as ruas, contam com árvores centenárias, todas irrigadas diariamente pelas acéquias, canais que passam em todas as estradas e ruas das cidades próximo ao meio fio. Fato admirável é que não se encontra lixo nas acéquias, apenas folhas que caem dos grandes plátanos e álamos durante o outono.
Outro fenômeno interessante que ocorre na região é redução populacional da capital, em contrapartida ao crescimento das pequenas cidades ao redor. Com o acesso a água, energia, estradas asfaltadas e em excelentes condições, os produtores vão abrindo novos campos de trabalho no terreno árido, gerando riquezas para quem mora no entorno. A cada ano surgem novos empreendimentos enogastronômicos, empregando mais pessoas que além de renda, encontram um lugar tranquilo para manter as famílias, com vistas incríveis das montanhas cobertas de neve e campos repletos de vinhas.
 Como outros locais no planeta, a região desértica próxima a cordilheira é um excelente exemplo de como a escassez pode gerar excelentes oportunidades, com a iniciativa de quem vive em cada local. Ao conhecer estes locais, precisamos rever o comportamento reativo sobre nossas cidades ao reclamar do clima, do solo, das chuvas, e de tantas outro fatores externos, esquecendo de avaliar o quando é possível fazer por aqui mesmo.
Um abraço e até a próxima!

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