segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O legado

                Vivemos tempos líquidos, lembra o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, em “Vida líquida” e outras obras. Os avanços tecnológicos nos proporcionam melhorias significativas e mais rapidamente que em qualquer outro momento da humanidade. Vivemos um paradoxo em relação ao tempo, pois a tecnologia abrevia o tempo de muitas tarefas, facilitando, agilizando e aumentando a produtividade, enquanto que nós todos, sendo usuários de boa parte desta tecnologia dizem que o que mais falta em suas vidas é justamente, o tempo.
                Os valores mais nobres e elevados, estabelecidos até alguns anos na cultura ocidental diluem-se como a água com o passar dos anos, escorrendo entre os dedos, sem que alguém seja capaz de segurar. Refletimos sobre os relacionamentos, os empregos, as empresas, os negócios, as famílias, os credos. A vida líquida é uma vida precária enquanto segurança e confiança, pois é vivida em condições de incerteza constante. Quanto tempo ficaremos neste emprego? Quanto tempo conseguimos ficar com este empregado? Quanto tempo permaneceremos no relacionamento atual? Quantos dos meus amigos são fieis e confiáveis? O quanto eu realmente sou amigo dos meus amigos? Por quanto tempo conseguirei conviver com meus familiares, meus colegas, meus amigos?
                Há o tempo de Deus e o tempo dos homens. O tempo de Deus muitas vezes nos liberta, enquanto o tempo dos homens muitas vezes nos escraviza e até distorce conceitos.
                Entendo que uma forma de não nos escravizarmos ao tempo dos homens é pensar no legado que nós e nossas organizações podemos deixar. Em tempos líquidos, tenho proposto pensarmos e agirmos avaliando nossa atividade e as nossas relações pela intensidade e pelo legado e não pelos dias, meses e anos que duraram.
                De forma prática, antes de avaliarmos se alguém partiu mais cedo de nossas vidas, de nosso convívio, de nossa empresa, passaríamos a avaliar o que cada pessoa deixou de contribuições a nossa vida, a nossa organização, a nossa comunidade, país... ao mundo. Em tempos líquidos ainda temos quem fica por muitos anos conosco e cada vez mais, aqueles que ficam fisicamente pouco tempo conosco. Este tempo fica relativo, quando alguém que fica menos tempo do que gostaríamos, deixa um legado que lembraremos por muito tempo.
                Os tempos líquidos vieram para que possamos aprender a valorizar mais a intensidade dos momentos em que vivemos uma condição, ou convívio, que gostamos, do que o número de dias e de anos. As vezes alguém parte mais cedo do que gostaríamos de nossas vidas. Com o passar dos anos, passei a preferir pensar no legado que cada um deixa em nossas vidas, nos empreendimentos, no município, na região, no Estado e no país. Sabemos que o tempo do relógio e do calendário é relativo para quem consegue intensidade no que faz, deixando um legado importante.
                Sentimos os dias passando cada vez mais rápidos, as semanas que parecem horas, os anos voando… e a vida se vai como o vento inesperado: não a vimos chegando, mal podemos dizer quando ela se foi. Só nos resta tentar deixar um legado que possa enriquecer as lembranças e estimular aqueles que também queiram deixar boas lembranças nas vidas, nas organizações e nas comunidades com as quais convivem.

                Um abraço, e até a próxima!  

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