sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

É preciso um novo ciclo

               
           É tempo de soja, de safra e de Fenasoja e de repensar algumas questões desta cultura. O surgimento da cultura da soja no noroeste do Rio Grande do Sul gerou um ciclo de desenvolvimento e prosperidade em muitas regiões de acordo com a expansão que foi tendo pelo interior do Brasil. O grão que ganhou escala de cultura agrícola nas terras vermelhas do noroeste gaúcho é hoje uma das commodities de maior expressão na balança comercial brasileira, sendo a principal do setor agrícola e tendo criado ao seu redor uma cadeia complexa que gera um grande conjunto de oportunidades.
                A cultura que foi o principal motivador para abrir fronteiras, foi decisiva para criar cidades, desenvolver indústrias de máquinas e equipamentos e algumas indústrias de transformação gerando grandes e complexas cadeias produtivas. Conforme dados da FAO e USDA, a soja responde por 56% da área cultivada do Brasil, que é hoje de 58,5 milhões de hectares. O crescimento segue sendo importante, sendo 3,5% maior desta para a última safra e acumulando 7,7% nos últimos 10 anos no Brasil. No mesmo período o Paraguai teve um crescimento de 9,2% e na Argentina, 10,5%, mostrando que o avanço da soja há muito não tem mais fronteiras.
                O preço da soja tem determinado muitos negócios e observa-se uma correlação forte entre os valores recebidos pelos produtores e a cotação do dólar, frente ao real. Desta maneira, gerir a comercialização in natura do grão exige alto conhecimento da dinâmica cambial dos mercados interno e externo. Uma das questões pouco comentadas é a queda constante que se observa nos preços da soja ao longo dos últimos 90 anos, que está atualmente estimada pelo Bureau of Labor Statistics, Bloomberg, Itaú, é de 20,59%, enquanto a área produzida tem aumento de 17%. Uma análise histórica desde 1926, deixa claro que a cadeia da soja auxiliou muito a nossa economia, mas para continuar sendo este pilar importante necessita que os produtores, a sociedade, os governos se ajam de forma mais rápida incrementando a cadeia com vistas ao aumento do valor agregado, frente aos mercados em cada vez maior competição.
                Há muito de nossas vidas e de nossos negócios atrelados a cadeia da soja e exatamente por isso deveríamos entender melhor como evolui ao longo dos anos e desde que surgiu como negócio de grande escala. A medida em que aumenta a oferta do produto no mercado os preços vão caindo e ainda, vão surgindo produtos que direta ou indiretamente substituem a soja como ela é utilizada atualmente, o que faz com que os preços caiam mais do que o aumento da produtividade consegue compensar. 
           Com os sinais de esgotamento do modelo cada vez mais forte, a necessidade de profissionalizar a cadeia da soja, reduzindo custos, aumentando a produtividade, agregando valor ao produto torna-se ainda maior. Desenvolver as indústrias de transformação da soja numa ampla e variada linha, não só é pertinente, como necessário para a prosperidade das regiões que são dependentes da soja.
                Somos a 9ª maior economia do planeta, mas representamos apenas 3% de tudo o que se produz no planeta. Temos a 25ª posição na participação do comércio exterior, representando apenas 1,2 a 1,4% do comércio internacional e isso é resultado de políticas públicas que fecham o país para acordos comerciais internacionais.
                 Poderíamos ter ganhos muito maiores se conseguíssemos ter uma gestão pública melhor, capaz de realmente entender que o setor produtivo é que gera os tributos que são capazes de sustentar todo o restante. Melhores condições logísticas de escoamento da produção, como ferrovias, hidrovias, mais e melhores estradas reduziriam em muito o chamado custo Brasil, mudando muito os resultados para toda a cadeia produtiva da soja. A capacidade de armazenamento estimada em 1/3 do que se produz, gera perdas de produto, de qualidade, ainda mais custos de transportes e retira quaisquer condições de aguardar um bom momento no mercado internacional.
                Assim como outras tantas áreas de nosso país, a cadeia da soja precisa e merece um novo ciclo de inovação para continuar sendo um dos pilares da nossa economia.

                Um abraço e até a próxima!

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